A Associação dos Notários e Registradores do Estado de Mato Grosso (Anoreg-MT) e a Escola Mato-grossense de Notários e Registradores (Emnor) realizaram neste sábado (20 de setembro), em Cuiabá, o curso “Grafoscopia e Documentoscopia – Falsidade Documental”, ministrado pela perita judicial e extrajudicial Mara Cristina Tramujas Calabrez Ramos.
O encontro reuniu notários, registradores e colaboradores de cartórios de todo o Estado com o objetivo de aprimorar práticas de prevenção à fraude e garantir maior segurança nos atos notariais e registrais.
Durante a formação, Mara Cristina apresentou exemplos reais de como um pequeno erro pode se transformar em um grande problema. No primeiro estudo de caso, intitulado “a foto que não era ele”, um homem utilizou um RG verdadeiro, mas pertencente a outro indivíduo, para lavrar procuração e vender um imóvel. O verdadeiro titular estava hospitalizado e o cartório acabou sendo acionado judicialmente, pois a semelhança na foto foi suficiente para enganar o atendente, que não realizou entrevista nem solicitou outro documento ou analisou a grafia do suposto outorgante.
No segundo caso, denominado “o ‘ele’ que não era ele”, um fraudador colocou um terreno à venda sem ser o legítimo proprietário. Após receber o pagamento, o vendedor verdadeiro negou ter realizado a negociação, levando o conflito à esfera judicial.
A especialista destacou que a excelência documental é essencial para evitar situações como essas. “Para termos um documento confiável, é necessário aliar análise gráfica, documentoscopia, conhecimento técnico, softwares adequados, aplicação da legislação vigente e gestão eficiente do tempo”, explicou.
Formação com propósito
Além dos aspectos técnicos, Mara Cristina também abordou a importância do desenvolvimento humano e da liderança no ambiente notarial e registral. Para ela, excelência é resultado da combinação entre princípios, valores e objetivos claros.
“Temos dons que nos diferenciam: imaginação, consciência, autoconsciência e vontade independente. Cabe ao líder selecionar o objetivo certo e ao gestor escolher os métodos corretos. Liderar é fazer a coisa certa (eficácia); gerenciar é fazer do jeito certo (eficiência)”, destacou.
Segundo a perita, para alcançar um trabalho de excelência é preciso ter clareza de propósito, planejamento e disciplina, evitando que demandas urgentes e externas desviem o foco do que realmente importa.
Equilíbrio e resultados
O curso também reforçou a necessidade de equilibrar produção e capacidade produtiva, produto da capacitação: garantir segurança nos atos notariais e, ao mesmo tempo, investir em colaboradores bem treinados. Mara Cristina lembrou o princípio de Pareto: 80% dos resultados vêm de 20% das nossas ações, destacando que priorizar atividades produtivas e preventivas gera melhores resultados e reduz riscos de crises.
Metodologia prática: Procedimento Operacional Padrão para Tabelionatos – POPtab
A palestrante apresentou o POPtab, uma metodologia desenvolvida para a prevenção a fraudes, que consta de quatro etapas: identificação da demanda; identificação do cliente (entrevista, observação de comportamento, análise da assinatura e das respostas); conferência de documentos obrigatórios (atenção especial a elementos de segurança de RG e CNH, uso de lupa, luz UV e tato); e validação caligráfica (análise do movimento da escrita, pontos de hesitações, lentidão e sinais de simulação).
Também foram discutidos os vestígios de fraude em documentos físicos e digitais, além do papel crescente das assinaturas eletrônicas, que exigem verificação lógica e contextual para garantir autenticidade.
Por fim, a expositora destacou que a correta identificação do cliente, a validação de documentos e a análise do lançamento caligráfico são passos indispensáveis para evitar falhas em atos notariais e registrais. “Trata-se de uma formação com propósito: oferecer ao cidadão a segurança jurídica que só um cartório pode garantir, fortalecendo a confiança no serviço extrajudicial”, concluiu.