A noite desta quarta-feira (11 de novembro) foi marcada pela realização da segunda live do projeto “Memórias” e teve como personagem a notária e registradora do 2º Ofício de Arenápolis, Hulda Figueiredo Rodrigues. A entrevista foi conduzida pelo tabelião substituto do 2º Ofício de Pedra Preta, Wagner Melo, idealizador do projeto, cuja finalidade é conhecer e homenagear os notários e registradores que tiveram participação nas fundações da Associação dos Notários e Registradores do Estado de Mato Grosso (Anoreg-MT) e do Colégio Notarial do Brasil – Seção Mato Grosso (CNB-MT).
Inicialmente, Hulda Figueiredo parabenizou os membros da diretoria da Anoreg-MT pelos trabalhos realizados, inclusive a chapa eleita para o triênio 2021/2023, desejando sucesso a todos. Também agradeceu todos os colaboradores, dedicando seu carinho e admiração por tudo o que fazem pela classe, bem como homenageou os colegas que já faleceram e os que, há muitos anos, estão na ativa. “Quero que os colegas de agora saibam que tudo o que conquistamos foi com muito sangue, suor e lágrimas”, exaltou.
Em seguida, informou que, em 1967, teve a infelicidade de perder sua mãe, que era professora e trabalhava com seu pai no cartório. “Meu pai ficou sozinho com seis filhos pequenos para criar, sendo eu a mais velha. Um dia, no cartório, ele me chamou para datilografar um documento e estou aqui até hoje. Porém, eu não queria ser cartorária, mas, sim, costureira”, confessou Hulda Figueiredo.
Conhecida pela forte personalidade, Hulda Figueiredo contou que se casou com 16 anos e teve o primeiro filho aos 18 anos, ocasião em que o perdeu. Depois, teve outros dois. “As principais dificuldades naquela época eram os poucos recursos pelo fato de a cidade ser pequena. Tudo era resolvido em Diamantino. Eu ia toda semana para lá, de ônibus, enfrentando chuva e, às vezes, subindo a serra a pé. No entanto, nunca tive problemas com os juízes de Diamantino e um que guardo amor muito grande, inclusive também por sua esposa, é o Leopoldino do Amaral. Uma chateação que vivenciei foi o fato de que eu sempre participava de reuniões em Cuiabá e tentava implementar as ideias no cartório, mas meu pai não deixava, pois era uma pessoa muito radical. Tirando isso, ele foi um ‘pãe’ para todas nós, muito cuidadoso na nossa criação”.
A notária e registradora em Arenápolis relatou que, nesse período de pandemia, sente saudades do ‘cantinho social’ do cartório, local onde recebia os clientes. “Ele surgiu de forma acidental. Antigamente, como aqui não era comarca e não tinha juiz, advogado, promotor, apenas tabelião, as pessoas procuravam meu pai para receberem conselhos em brigas de casal, divórcio, inventário. Agora, sou eu. Conheço todos aqui em Arenápolis, mas, no momento, não posso atendê-los em virtude da pandemia”.
Quanto aos projetos sociais, Hulda Figueiredo frisou que seu pai já casava as pessoas gratuitamente. “Como aqui era garimpo, as pessoas viviam amasiadas e meu pai falava para elas irem ao cartório que ele casaria todos de graça. E elas iam. Com o passar do tempo, a sistemática foi mudando, mas, mesmo assim, fazíamos casamentos comunitários, mesmo sem apoios. Depois veio o Cartório Amigo e é muito gratificante receber o agradecimento e ver as pessoas felizes. Tem gente esperando a próxima edição para poderem casar”.
No decorrer da live, Hulda Figueiredo pontuou um período em que ficou doente, fazendo tratamento contra a labirintite. “No entanto, fui diagnosticada com um tumor na cabeça. Ele já existia, mas, a forte emoção pela perda do meu pai, acelerou seu crescimento. Eu tinha o olho torto, era manca e caia o tempo todo. Certo dia desmaiei, fui encaminhada para o hospital e acordei na UTI. Não me lembro de nada. Voltei tão boa para Arenápolis que as pessoas perguntavam o que tinha acontecido que eu não apresentava sequelas”.
Questionada por Wagner Melo sobre o que mudaria na atividade notarial e registral, Hulda Figueiredo respondeu que o serviço cartorário, por ser dinâmico, “deveria ser um trabalho em que todos os colegas fizessem do mesmo jeito, falassem a mesma língua. Já atendi vários clientes dizendo que os serviços solicitados podem ser feitos de forma discrepante em outros cartórios. Isso é muito desagradável. Penso que o atendimento também deve ser melhorado para que os serviços fluam melhor”.
No fim da live, Hulda Figueiredo, descontraída, contou um caso pitoresco. “Certo dia, meu pai recebeu o pedido de um homem para rasgar o livro de casamento pelo fato de ter descoberto que a esposa não era mais virgem”, acrescentando que ela também já recebeu pedidos de casais querendo registrar filhos com nomes estrangeiros, muitas vezes, com o amparo da legislação, negados.
Convidada a deixar uma mensagem aos notários e registradores, ela enalteceu que estar emocionada. “Fico emocionada pela oportunidade de participar desse projeto. Amo muito minha profissão e todos vocês. Me sinto mãe de todos. Vejo os mais jovens com muito interesse em participar da nossa classe. Gostaria que nossos colegas passassem esse amor pela profissão para a população. Não estamos nesse mundo só para ganhar dinheiro. Servir o próximo, ver o pai sair da maternidade com a certidão de nascimento do filho nas mãos é muito satisfatório”.
Por fim, o mediador da entrevista, Wagner Melo, fez um bate bola rápido com Hulda Figueiredo. Confira as perguntas e respostas:
Time de futebol: “Fluminense”.
Hobby: “Jogar dominó no celular e assistir filmes sobre óvnis”.
Música: “Sou eclética, mas não venha com sertanejo universitário. A que me toca no coração, pela letra, é ‘My Way’, de Frank Sinatra”.
Comida preferida: “Galinha caipira com quiabo e polenta”.
Ídolo: “Jesus”.
Livro de cabeceira: “Estou lendo a história do Brasil, a chegada de Dom João no Brasil. Gosto muito de história. Gosto muito de Dom Pedro I, Dom Pedro II, sou fã de Dom João VI. Gosto muito da família real”.
Frase para a vida: “O sucesso não é acidental”.
Sonho: “Ver meus filhos e netos bem. Meu neto vai fazer 14 anos e, com 28, vai estar concursado como tabelião. Quer ser tabelião”.
Lugar para viajar: “Grécia”.
Mensagem aos notários e registradores: “Que façam tudo com amor, respeito e honestidade. Meu pai morreu pobre porque era honesto. O nome dele sempre vai ser preservado. Nosso nome é nosso maior patrimônio”.