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Notícias

Nota de Falecimento – Sr. Alceu Rheinheimer, notário e registrador do 2º Ofício de Vera-MT

8 de julho de 2020

 

Prezados(as) colegas,

A Associação dos Notários e Registradores do Estado de Mato Grosso (Anoreg-MT), manifestam o seu profundo pesar pelo falecimento do doutor ALCEU RHEINHEIMER, ocorrido no dia 07/07/2020, 68 anos, que foi Notário e Registrador do Cartório do 2º Ofício de Vera-MT, Nasceu aos 06/05/1952, em Três Passos-RS, Casado com Neli Rheinheimer, pai da Sheila, Shahla e João Alceu. Avô do Marco Túlio, Mateus, Marcelo e Beatriz.

Chegou em Vera por volta de 1976.

Neste momento de dor, solidarizamos com a família e os amigos. Sabemos que a vontade de Deus é maior que a nossa.

Diante disso, queremos demonstrar os nossos sinceros sentimentos.

Diretoria Anoreg-MT

 

Palavras do Sr. Alceu:

 

          “No centenário de nascimento do SR. ENIO PIPINO, muitas lembranças percorrem minha memória, quantas histórias nos contaria se ainda estivesse entre nós, mas os registros de sua determinação e pioneirismo nos dão a dimensão de sua grandeza e importância para nossa região e Brasil. Em Vera sua primeira Cidade no Norte de Mato Grosso, iniciou o que hoje é uma das regiões mais promissoras do país. Alguns fatos que lembro e estão sempre atuais nos meus pensamentos relato aqui brevemente, em alusão ao aniversário de fundação de VERA, comemorado no dia 27 de julho, aos pioneiros para lembranças e aos que vem chegando, a alegria de compartilhar um pouco de história.

          No início do ano de 1976, minha curiosidade sobre esta nova região, aguçou, já sentia algo diferente, contagiante, além das belezas naturais a receptividade do povo me cativou e aqui estou até hoje. Olhava a densa mata, para todos os lados a mesma imagem, com cuidado, atravessava a floresta da igrejinha à chácara de Seu Aloísio, atentos ao chão por causa de alguma cobra, ao lado por causa de onça e para cima tentando ver o biscateiro que assoviava estridente, nunca o viram.

          Ao sair da mata o sol de 40 graus, poeira fina como talco entrando no meu kichute e o vento forte soprando areia nas canelas, apressava meus passos, pois logo ali a minha espera, estava minha namorada Neli, linda e cheirosa me convidando para almoço preparado por Dona Maria, aipim com mistura e carne de porco na lata. Passeamos muito no farinheiro do seu Dervino, onde torrava e nos servia um cafezinho da hora. Foi lá que o saudoso Ivo encontraria a mocinha Giselda. No borboleteiro seu Alvino e esposa. Juntamente com as estudiosas meninas Aleda e Alediná a prosa se estendia falando de sua atividade. Voltando, já hora de pegar o leitinho para o mingau do Juquinha, seu Evaldo já havia providenciado.

          Na dona Quitéria não era fácil passar, o aroma de seu fogão era de empacar. O seu Bató, colocava a cabeça de boi, anunciando que a mistura havia chegado e com habilidade raspava o toco e com cortes certeiros com seu machado servia o freguês a contento.

          Logo em frente seu Luiz da Rodoviária “alto-falante”, comunicava que o carro 47 de seu Kobayasti sairia em seguida, atrasando alguns minutos, pois a Irmã Adelis embarcaria um garimpeiro que ela recuperou da malária, com muitos frascos de soro, cujos recipientes eram de vidro e sinalizavam lá no campo santo que muitos não tiveram a mesma sorte.

          Atrativo principal era a maior festa do Estado de Mato Grosso, organizada pela comissão dirigida por Padre Antônio era a Santa Missa, com cânticos entoados por seu Albino e seu Silvério, os mesmos que animaram meu casamento, registrado com uma Kodak, pela Irmã Edhita.

          Finalizando as missas, entre saudação e oração final, Padre Antônio, já abordava seu Armando Matarazzo, para uma canastrinha, acompanhado de um bom queijo preparado pela dona Elenir. Não raras vezes encontrava o carismático seu Nonô, na chuva ou poeira, levando a hóstia sagrada para um irmão acamado, muitas vezes a extrema-unção. A notícia de passamentos vinha pela rádio cipó do Cabral, "Velho Pangaré".

          Notícias dos entes do sul ou nordeste, vinham via rádio amador da Colonizadora Sinop, que funcionava duas horas por dia e os mais afoitos usavam telefone a manivela, indo para tanto até Nobres.           Seu Genildo preocupado em que poderia faltar alimentos na cidade, não sei de que forma acionava a Cobal e em seguida o Búfalo da FAB descia com enlatados, charque, leite em pó, foices e outros tantos, limitando uma cota para cada família para que ninguém ficasse a mercê.

          O sortido armazém de Seu Armando, que não fechava a não ser no dia da paixão, era porta-voz da cidade, onde todos vinham pedir informações ou deixar recados para algum parente antes de se embrenhar na mata em companhia do gato para abrir fazendas.

          Não poucas vezes ao retornarem o movimento era grande no Bar da Chica, do Chico, da Tereza, do Zé Martins e do Joaquim Cabeludo, culminando algumas vezes com desentendimentos por assuntos mal resolvidos regados com uma branquinha, jurubeba e alguns copos de vinho com açúcar e muita falação. A molecada ficava na torcida para ver quem acertaria a orelha do outro primeiro, alguns torcendo para o Vicente Agrimensor e outros para Elidio, momento que era necessário a intervenção da irmã Adelis para tirar o trezoitão e a pexeira, dar uns tapas nos traseiros dos briguentos e acabar com o fordunço.

          Já estavam aqui, recepcionando autoridades que vinham prestigiar a recém-criada cidade Vera, seu Roberto e dona Elvira, do Hotel Vera - que continua como na época, sem alterações. A vila crescia, para quem quisesse fazer seu barraco, Eduardo e Décio forneciam a madeira. Logo depois a Imavel do seu Oraci, (que segundo o menino Jolce quem mandava era Tio Aldo, quando o pai não estava) incrementou atividade madeireira, com toros trazidos por Raulino e Jaime, nos Ford ou Chevrolet.

          Toros esses conduzidos na serra com incrível habilidade do "pé de fita" seu Pedro, que tinha na destopadeira o Ditão e Tonho Barela, logo eram transformados. Quando catraca ou piriquito tirava a coluna do eixo, seu Kopp, com massagens com graxa de capivara e banha de tatu, dava um jeito e ainda oferecia uma fezinha do jogo do bicho e loteria esportiva.

          No esporte tinha o Vera Futebol Clube e seu Sadi de juiz, que ninguém se atrevia de xingar a mãe, pois tinha em campo o Vilmar briguento, apaziguado pelo Juca, Prexeca, Rudimar e Itamar e como defesa o instransponível Braz, no ataque, Menezes, na lateral Zé Barbudo e Osmarino, eles faziam a alegria da galera nos finais de semana.

          Na educação tivemos nomes que estarão eternamente em minha memória, a dedicada Fátima Costa, Ana e Natalia, Tereza Boeing, Neide dos Santos, Terezinha Pagani e os alunos que como professores ministravam pratica industrial, destacavam-se Bruno, Noemia, Terezinha da Luz, Marinete, Juraci, Miltinho e Benicio, esse último pouco habilidoso no manuseio do martelo.

          Dos meninos, boas lembranças, faziam consertos e abasteciam o Chevrolet do seu Silvério, com óleo da Pirassununga 51. Em peripécias o “Perigoso” era o mestre, o Itagiba e o diretor Edson que o digam.

          Certo dia em um fusca, já surradinho com placa de Lavras - MG, chegava Dr. Elias e Dr. James, dispostos em contribuir com Vera. Certa feita fomos eu e James, incumbidos de levar vacina contra paralisia infantil para o desconhecido Santo Antônio do Rio Bonito. Orientados por Chico e Posidônio, seguimos sobre estivas mata adentro as indicações de cartolinas pregadas em arvores. Padre Antônio estava irreconhecível e James com dificuldades na visão, era época de poeira e o fusca não tinha assoalho, imaginam como ficou o motorista que na época usava brilhantina no cabelo, foi grande a animação e boa a experiência.

          Com respeito aos que chegaram antes de mim, impossível descrever e registrar todas suas realizações e dificuldades enfrentadas, registro aqui, algumas lembranças dos bons momentos, pois era assim a vida, simples, mas alegre. Faço essa retrospectiva com carinho e saudades dos que já partiram e agradecimentos aos que com a graça de Deus ainda podem descrever alguns acontecimentos e publicá-los, pois assim, é que se formaram as civilizações e a história se perpetua.”

 

“VERA, COM FUTURO VERÁS”

 

Alceu Rheinheimer